Ele não está aqui...
Há 2 anos
Declaração Universal dos direitos humanos Art. XVIII Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.”
As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?
Mahatma Gandhi![]() |
Fotos; Levy Galdino |
![]() |
O santuário foi projetado pelo arquiteto Alexandre Azedo e o memorial é de autoria do também arquiteto Gilberto Guedes |
![]() Na década de vinte, no século XX, chegava a Patos um casal campinense: Absalão Emerenciano e sua esposa Domila Emerenciano de Araújo, trazendo consigo uma criança, filha de retirantes e conhecida apenas por Francisca. A menina lhes fora dada, em uma das maiores secas da história, como única forma encontrada por seus pais para livrá-la da fome que assolava as famílias nômades, as quais viviam em um verdadeiro estado de miséria. Absalão teria na Capital do Sertão da Paraíba uma importante missão a cumprir: executar o funcionamento do motor que fornecia energia para toda a cidade. Sua esposa, por sinal uma mulher de beleza invejável, trazia consigo um gênio forte e desumano. Pacato como sempre foi, ele aceitava os caprichos reprováveis da companheira, como quem pratica um grande sacrifício para manter um comportamento exemplar em meio à sociedade. A maior vítima da mulher malvada passou a ser justamente a pequenina que era verdadeiramente uma criada, responsável pela execução das tarefas de casa. Vivia em uma espécie de prisão e passava por constantes sessões de tortura, valendo citar ainda que além da pancadaria, promovida constantemente contra a indefesa, Domila chegava até mesmo a sentar sobre o seu corpo para entoar músicas, acompanhada de seu violão. Se por acaso não concordava, o homem do motor da luz aceitava as referidas práticas e, aos poucos, a tragédia passava a ser apenas uma questão de tempo. Em 10 de outubro, de 1923, por volta das 18:00 horas, cumprindo uma trajetória diária, Domila saiu de casa e seguiu ao encontro do esposo, com quem palestrou até às 22:00 horas, momento em que o equipamento fora desligado e os dois regressaram para dormir. Ao deixar a residência tinha sempre uma frase repetida endereçada à criança, no sentido de que após lavar a louça e organizar outros espaços da casa, fosse dormir. Atraída pela algazarra das meninas de sua idade residentes na então rua da Pedra, a pobre inocente, após cumprir a tarefa, abre a janela e fica a contemplar as brincadeiras. O sono bate e, displicentemente, dirige-se para a rede, esquecendo-se de fechá-la, o que seria um álibi de Domila, para espancá-la de forma brutal, utilizando-se da trave de madeira usada como taramela, culminando com o massacre. Com o crime concretizado o casal passou a viver um momento terrível, que, por incrível que pareça, criava-lhe maior preocupação não por conta do assassinato, mas por temer a reação pública. Naquele momento, em plena madrugada, já era traçado o plano de desova e, conseqüentemente, a distorção da verdade. Absalão buscava um meio de livrar-se do corpo da menina, contratando uma viagem no caminhão de Zé Vicente, cujo motorista era conhecido como Hindú e morava na mesma artéria. Francisca era levada em um saco de estopa e jogada no sítio Trapiá, em um ponto ermo, sem que o condutor do carro fosse informado ao certo que tipo de missão estaria sendo desenvolvida, já que anteriormente soubera apenas que o casal seguia com destino à residência de amigos para entregar uma encomenda, e, lá chegando, lhe orientara a aguardar o retorno em uma estrada vicinal. No dia seguinte, enquanto Domila espalhava que Francisca havia desaparecido, Absalão encenava uma procura frustrada. ![]() No local onde encontrou o corpo da criança, o agricultor Inácio Lazário, fincou uma cruz de madeira simples que passou a servir de orientação. As pessoas que por ali passavam, mantendo uma tradição religiosa, rezavam algumas orações em sufrágio da alma da inocente. ![]() Com o surgimento da Capela começava também a romaria, que mais tarde seria o ponto de maior convergência de peregrinos e fiéis do Estado da Paraíba. Entre os possíveis milagres atribuídos à “Menina Francisca” o mais surpreendente foi narrado por um americano que veio a Patos trazendo uma réplica dos seus pés, na época em que sofria de uma grave doença. Dona Odília, moradora do Sítio Trapiá, que zelou a capela por mais de 50 anos, sempre contava o fato com muita emoção. Segundo ela, “Este cidadão dos Estados Unidos, havia sonhado com a menina, informando que a sua cura estaria nesse ponto de romaria, localizado em Patos e para tanto bastaria que através da fé prometesse que levaria o ex-voto até o local. Pacto firmado, graça alcançada e promessa paga”. Somente onze anos depois do crime, o primeiro julgamento do casal veio a se concretizar, graças à determinação do Juiz Luiz Beltrão, que desengavetou o processo e mandou que os dois fossem presos em Campina Grande. No primeiro Júri que não condenou o casal, ocorrido em 15 de junho de 1934, funcionou na defesa o Advogado José Tavares, na acusação o promotor Alfredo Lustosa Cabral e foram jurados: Francisco Olídio Wanderley, Antônio Chaves, Sabino José Viana, Virgílio Barbosa e Oscar Medeiros Torres. Em 24 de outubro o casal voltou ao banco dos réus, na sessão presidida pelo Juiz Manoel Maia de Vasconcelos. O promotor foi Antônio Dantas de Almeida e na defesa funcionaram os advogados José Tavares e Plínio Lemos. Os jurados foram: Laurênio Lauro de Medeiros Queiroz, José Caetano dos Santos, Anésio Ferreira Leão, João Olintho de Mello e Silva e Alcebíades Alves Parente, os quais decidiram pela absolvição, também por unanimidade. O último júri aconteceu em 05 de junho de 1935, presidido pelo Juiz Edgar Homem Siqueira, tendo na promotoria Antônio Dantas de Almeida e na defesa os advogados Plínio Lemos e Francisco Wilson da Nóbrega. Os jurados foram: Bossuet Wanderley da Nóbrega, Pedro da Veiga Torres, Raimundo Pires Braga, João Norberto da Nóbrega e José Permínio Wanderley, prevalecendo a mesma decisão anterior. Mesmo sendo inocentado pela justiça, o casal jamais foi perdoado pela população. ![]() O então prefeito Antônio Ivânio Ramalho de Lacerda, responsável pelas despesas de elaboração do projeto e desapropriação do terreno que ![]() Nos dias atuais, a Igreja já leva a efeito algumas celebrações dentro do complexo, o que no passado, somente o Padre Noronha, de saudosa memória, se arriscava a fazer. Dizia ele: “Celebro em qualquer canto porque Deus está presente em todo lugar”. O Parque Turístico Religioso Cruz da Menina é composto de um anfi-teatro, cobertura em forma de pirâmide que protege a parte central onde estão a capela e duas salas de ex-votos, um restaurante, dez lojas de souvenir, espaço para a administração e posto policial. O ambiente é bem arborizado, agradável e atraente, chegando a ser considerado um dos pontos de maior visitação do Nordeste.
Presume-se que mais de 100 mil pessoas passem pelo parque anualmente e com a realização de algumas festas tradicionais, a exemplo de Pentecostes, o fluxo vem aumentando consideravelmente. O local é também parada obrigatória para os romeiros de vários Estados que se deslocam para o Juazeiro do Padre Cícero, principalmente no final de outubro e início de novembro.
Além dos folhetos comercializados no parque, os quais descrevem a história completa desde a sua origem, em 1993 a Lucena Publicidades produziu um filme em VHS, com a participação de 28 atores e mais de 100 figurantes, com duração de uma hora e onze minutos, sendo que todos os cenários e artistas são originários de Patos. Também foi editada uma revista, totalmente ilustrada, com todos os detalhes do episódio, além da disposição para um possível processo de beatificação junto ao Vaticano. O Parque também se destaca por gerar mão-de-obra e renda. Além dos artesãos e empresários que lá atuam, a população pobre da Vila Mariana, uma comunidade situada ao lado, encontra ocupação e lucratividade na venda de velas e funcionamento de alguns estabelecimentos que comercializam lanches e bebidas. ![]() |