Durante a viagem pude ouvir muitas histórias sobre diferentes tribos  africanas. Uma delas me comoveu. Uma história musical. É o relato de um  costume preservado por uma tribo. Para cada criança que nasce uma música  é composta. Uma oferenda que marca a entrada da criança no mundo.  Música que estará diretamente ligada à identidade pessoal. Ela cumpre  papel de ser a trilha que sonoriza os momentos importantes da vida  daquele que a recebeu.
Há um fato interessante. Segundo a história que ouvi, além de ser  cantada nas celebrações felizes, a música é utilizada por ocasião de  grandes deslizes cometidos pela proprietária da música. Funciona como  uma espécie de purificação. Ao perceber o desvio de caminho, a  comunidade se reúne e canta, para que a pessoa, ao ouvir a sua música,  possa ter a possibilidade de voltar ao formato original, ao início de  tudo, momento em que a música lhe foi ofertada. Esse costume me fez  pensar no quanto é necessário ter um referencial que nos faça voltar ao  estado primeiro das coisas. Uma voz, uma palavra, um lugar, uma música,  enfim, qualquer coisa que pertencesse à nossa memória afetiva, e que  tivesse o poder de nos fazer voltar a nós mesmos. Algo que pudesse nos  fazer enxergar melhor o contexto de nossas escolhas. Algo que nos  ajudasse na reconciliação com nossos limites, sobretudo no momento em  que os erros prevalecem sobre os acertos, e a vida se apresenta difícil  demais diante de nossos olhos. A história me fez refletir sobre a arte  de recomeçar.
Verdade ou lenda? Não importa. A história já virou verdade em mim. A  partir de hoje quero estar atento a tudo o que me recorda quem sou.  Esteja também. Mais cedo ou mais tarde precisaremos deste instrumental. (Fábio de Melo)











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